lunes, 13 de julio de 2009

Velhice, do que se está falando? Gabriela Felten da Maia y Fátima C. V. Perurena

UFSM/BRASIL

Quando uma pessoa torna-se velha? Que critérios definem essa categorização? Uma pessoa é tão velha quanto o seu corpo determina? São perguntas que de modo geral permeiam algumas discussões dentro do campo gerontológico com relação à constituição de seu objeto – a velhice. Na busca de tal definição esta disciplina direcionou-se para corpo como forma de encontrar os critérios que pudessem demarcar o que é afinal a velhice. Um velho, participante de uma pesquisa que realizo no mestrado em Ciências Sociais, ao ser interpelado a respeito da velhice, apresenta-me duas categoria – Novo-velho, velho-nova – para explicar uma mudança de sensibilidade com relação à velhice que ele percebe na atualidade, em comparação a sua época de juventude.

Segundo este sujeito, temas como doenças na velhice e receitas de cuidados com a saúde, para se chegar a uma velhice bem-sucedida, não faziam parte das discussões de sua época. Seu relato pareceu-me apontar para um sintoma da sociedade atual: uma medicalização da vida, especialmente da velhice. Alguns autores têm debatido a respeito do surgimento de corpos-velhos ideais, baseados, na performance física, em novos parâmetros, valores higiênicos e regimes de ocupação de tempo, que orientam as ações individuais com o intuito de manter uma melhor forma física, longevidade e prolongamento da juventude. A representação do corpo envelhecido em oposição à capacidade para produzir ou de reproduzir deixa claro que há uma ênfase posta no corpo como marca/marco da velhice em que as manifestações corpóreas tornam-se perdas em relação ao predomínio de um paradigma da juventude que tem como premissa a manutenção desta para se escapar do vilão do envelhecimento. Assistimos, cada vez mais, a intensa profusão de experiências e discursos produzidos sobre a velhice. Experiências que apresentam um novo ethos, novas maneiras de ser, de se comportar e de vestir. Performances mais positivas para a velhice. Essas iniciativas, sob o nome da terceira idade, transformam o envelhecimento em uma experiência mais gratificante, em que não há espaço para a manifestação de qualquer comportamento que possa ser associado à velhice. Cria-se, assim um novo-velho, que deve manter-se afastado do envelhecimento através diferentes práticas, com o intuito de conservar suas capacidades funcionais e, em última análise, sua juventude. O que parece haver é uma substancialização da juventude como marcador da velhice, uma espécie de determinismo bioideológico que a faz ser vista como uma dimensão não-produtiva e terminal da natureza, ou seja, não reproduziriam a sociedade. A identidade etária da velhice, portanto, estaria marcada pela presença do corpo como definidor do que é ou não velho. Nesse sentido, este trabalho busca discutir como marcadores de qualidade de vida e velhice ativa podem constituir imagens que oscilam entre o bom e o mau envelhecer, configurando modos de gestão da velhice que levam a uma reprivatização da mesma, ou seja, a uma responsabilização do sujeito sobre o seu envelhecimento

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