jueves, 20 de agosto de 2009

Auto-Ajuda como Discurso sobre as Emoções: Um Olhar sobre a Produção Brasileira para a Crise da Meia-Idade. Talita Castro.

Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social
Unicamp, Brasil.

A proliferação dos discursos da auto-ajuda constitui fenômeno de grande relevância no contexto cultural contemporâneo. Tomando o caso brasileiro como cenário específico, proponho a análise de uma produção particular dentro deste nicho: a saber, os livros dirigidos à crise da meia-idade de homens e mulheres, publicados por autores nacionais nas duas últimas décadas. Compartilhando dos pressupostos de Arlie Russell Hochschild, parto da compreensão da auto-ajuda como discurso privilegiado sobre as expectativas sócio-emocionais para a vida das pessoas. Trata-se de pensar em tais livros não como reflexo da realidade, mas como códigos que ajudam a pensá-la e que, ao mesmo tempo, também a constituem. Faz-se necessária, para tal, uma reflexão sobre o histórico deste gênero de produção cultural, para compreender as suas especificidades no contexto contemporâneo latino e, sobretudo, brasileiro.

Nesse sentido, busco compreender como a chamada crise da meia-idade é construída por tais textos: quais suas causas e seus indícios, os recursos que ela demanda e as possíveis soluções aventadas. Quais as perspectivas profissionais e as angústias existenciais que marcam essa determinada fase da vida? Como se colocam as relações familiares e de amizade? Como a sexualidade destes homens e mulheres, por volta dos quarenta ou cinqüenta anos de idade, é problematizada? Como são tomadas e significadas as transformações corporais que marcam esse momento do processo de envelhecimento? Há mais: trata-se de pensar nas implicações do ideário da crise da meia-idade levando-se em conta as inflexões de gênero, que marcam profunda e radicalmente as diferenças na forma como esta experiência de vida é registrada em tais livros.

Para tanto, mostra-se central a descrição etnográfica das categorias nativas, por assim dizer, do lobo e da loba. Erigidas no interior desta literatura nos primeiros anos da década de 1990, tais ideais espalham-se por outros contextos midiáticos e tornam-se referência, ao meu ver, para se pensar nas interfaces entre processos contemporâneos de negação da velhice, de multiplicação das marcas identitárias e de exaltação da juventude como valor. Com isso, procuro dar conta das interseções entre corpo, emoções e subjetividades, que são tema do presente Grupo de Trabalho.

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